ARAÇUAÍ/MG
(por Sérgio Vasconcelos) – Marcos Vinicius Silva, 34 anos, está foragido. De acordo com a Polícia Federal, ele estaria
envolvido no escândalo que desviou R$ 70 milhões dos cofres públicos. A
operação batizada de “Violência Invisível” prendeu dois ex-prefeitos do Norte
de Minas. Alegando inocência e vítima de um esquema criminoso que ele desconhecia
Marcos Vinicius, conhecido por Marquinhos, residia em Araçuaí, Vale do
Jequitinhonha, concedeu através de um telefone com número privativo, entrevista
exclusiva na tarde de domingo, dia 7 de julho, ao Jornal Gazeta de Araçuaí.
Residindo
desde dezembro passado em Montes Claros, ele negou as acusações e disse que foi
envolvido por uma empresa que tinha reconhecimento no mercado. Na entrevista,
ele cita que negociou com a Prefeitura de Janaúba, mas isentou o então prefeito
José Benedito Nunes Neto (PT).
Na
Operação Violência Invisível, desencadeada no dia 2 de julho pela Polícia
Federal, sete pessoas foram presas, das nove que tiveram a prisão decretada,
entre elas o empresário Mateus Roberte Carias, apontado como mentor do esquema
e os ex-prefeitos de Pirapora, Warmillon Fonseca Braga (DEM), e de Janaúba,
José Benedito Nunes. O ex-prefeito de Montes Claros, Luiz Tadeu Leite (PMDB),
também teve a prisão decretada. Ele está refugiado em Miami, nos Estados
Unidos. (Na última quinta-feira, dia 11, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais
revogou a prisão de Tadeu. E ontem, sexta-feira, dia 12, liberou os
ex-prefeitos José Benedito e Warmilon Braga, mas este continuou detido devido a
outro mandado de prisão com relação à gestão dele frente à Prefeitura de
Pirapora).
Marcos
Vinicius negou qualquer envolvimento com os ex-prefeitos. “Não conheço estes ex-prefeitos.
Nunca tive contato com eles. Sou inocente”, afirma.
TRECHOS
DA ENTREVISTA CONCEDIDA POR MARCOS VINICIUS AO JORNAL GAZETA
Como
você se envolveu nesta história?
Quando
estava na prefeitura de Araçuaí, chegou uma proposta da Urbis, para compensação
do INSS dos Agentes Políticos que foram pagos de forma irregular. Logo depois
eu fui exonerado do cargo de chefe de gabinete, em março de 2010.
Na
época a Urbis apresentou inúmeras prefeituras que faziam e o serviço era bom
para os municípios
Quando
sai da prefeitura em 2010 eu fui à (cidade de) Vitória (no Espírito Santo) e
conheci o Mateus Roberte. Ele me falou que o serviço de compensação não podia
mais ser feito, pois tinha vencido o prazo para entrar com a ação. Passou um
tempo, ele me ligou e disse que queria falar comigo. Ele mandou um
representante em Governador Valadares e me falou que a Digicorp, outra empresa
dele, que estava fazendo uma parceria com uma grande empresa de Vitoria, a
Merizzio e Louzada, e que essa empresa tinha precatórios transitados em julgado
escriturado na Receita Federal para compensação do INSS. Ele me apresentou toda
documentação autenticada das empresas privadas que faziam. Mas, o que mais me
interessou foi que, as compensações só se iniciariam após a autorização da
Receita Federal, dizendo que o crédito tinha sido habilitado, e poderia iniciar
as compensações. Achei fantástico. Falei que fizessem a proposta para as
prefeituras e empresas privadas que eu ia trabalhar.
Como
funcionava o esquema?
Na
época me apresentaram 87 contratos com empresas privadas que faziam esse
procedimento há mais de 7 anos. E que
poderia fazer para prefeituras. Então amigo, corri atrás. Pode acreditar, todos
nós somos vitimas. E falam que fiz em várias prefeituras.
Você
fez quantos contratos e com quais prefeituras?
Foram
apenas três. Capelinha, Janaúba e Montes Claros.
Em
quais prefeituras você protocolou propostas?
Protocolei
em diversas prefeituras e empresas de grande porte, inúmeras. Mas só fechei
contrato com a de Montes Claros, Janaúba e Capelinha.
Mas
você não desconfiou que podia ser um golpe?
A
Urbis era um instituto de nome nacional, com contratos em todo pais, exercendo
trabalho na área tributária. Eu ia trabalhar com precatórios transitados em
julgado e escriturados na Receita Federal. Um negócio absolutamente legal. Eu
tinha absoluta certeza que o negócio era idôneo. Pelo amor que sinto pela minha
mãe, eu não pratiquei nada de errado.
A
Polícia Federal afirma que os documentos
apresentados são falsos.
Toda
documentação que a empresa mandava, estava autenticada não dando nenhuma brecha
para pensar em falsificação. Os prefeitos são vítimas. Não tem qualquer propina
para prefeitos ou servidores públicos. Só fizeram porque o negócio parecia
totalmente lícito e para os municípios era excelente, pois todos passam por
dificuldades.
Em
que consistia esses benefícios?
A
cada um milhão que pagaria ao INSS, R$ 300 mil ficariam nos cofres públicos.
Volto a afirmar, são todas vítimas. A Justica tem de prender os verdadeiros
culpados.
Quem
são eles?
Acredito
que a Policia Federal vai encontrar os verdadeiros bandidos, pois estão ouvindo
todos. Não sou bandido. Nunca respondi a nenhum processo. Sempre trabalhei.
Se
a Urbis já estava envolvida em escândalo semelhante, por que você permaneceu
trabalhando para ela?
Não
ofereci mais nada depois da operação no Espírito Santo E as compensações dos
três municípios estavam correndo tudo tranquilamente.
Qual
era o seu papel dentro da empresa ?
Eu
era apenas um representante comercial autônomo. Como disse o próprio Mateus
Roberte em depoimento à Polícia Federal.
Quem
falsificou os documentos?
A
Polícia Federal está com um inquérito aberto pra pegar quem falsificou. Não sei
que documentos estão dizendo que são falsos. A PF fala que a comunicação que
veio da Receita Federal dizendo que o crédito foi habilitado é falsa. Dizem que
não existe o servidor da Receita Federal que assinou este documento. Só isso
que sei. Pois, toda documentação era trazida por um funcionário do Mateus.
Antes
de ter sua prisão decretada, você foi ouvido?
Fui
intimado no dia 17 de junho e prestei depoimento na Polícia Federal. Só me
perguntaram de Montes Claros, nada de Pirapora ou outro lugar.
Quem
pediu sua prisão?
O
Ministério Público já estava investigando e pediu a minha prisão à juíza de
Pirapora. E ela concedeu.
Onde
você está e como você está enfrentando estas denúncias?
Estou
em Minas Gerais preparando um Habeas Corpus para que eu possa me apresentar e
dar todos os esclarecimentos à Polícia Federal. Quero colaborar com a Justiça.
Se eu for agora, vão me prender. Está ruim demais, mas lá dentro da prisão é
pior, por isso estou dessa forma. Estou arrasado. Ainda não cometi uma besteira
por causa dos amigos
Você
vai se apresentar à Polícia?
Somente
após a concessão do Habeas Corpus.
(Fonte:
jornal Gazeta de Araçuaí no link http://www.gazetadearacuai.com.br/noticia/2145/alegando_inocencia__ex-assessor_de_deputado_citado_em_escandalo__concede_entrevista_ao_gazeta/)
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